
Desde muito novinha, amo lidar com as panelas. Passava horas na frente da televisão assistindo ao programa da Ana Maria Braga, copiando as receitas com muita velocidade, para não perder nenhum detalhe, pois sou do século passado (como senti-me velha, agora!), e não tínhamos acesso à Internet, ao meu amadinho Google.

Eu chegava a mandar cartinhas. Sim! Cartinhas pelo correio! para fábricas como a Nestlé, de farinha, açúcar, pedindo os livrinhos de receita deles. E que dia feliz quando os livrinhos chegavam! Naquela época, nem se falava em estudar Gastronomia, mas para mim, estar na cozinha era de um fascínio único, uma arte, uma terapia, um processo de alquimia (o que mexia com o meu lado bruxinha).
Quando ingressei na faculdade, optei por Letras, por sempre amar a nossa língua, literatura e gramática e amaria ser professora. Cheguei a lecionar inglês em escolas daqui da minha cidade, Taquara. Mas os livros de culinária, um pouco mais acessíveis, ao passar dos anos, não paravam de me chamar. Todos os sábados, então, saía um bolinho diferente, uma receitinha nova.
E foi quando resolvi ser au pair (programa de intercâmbio) nos E.U.A, que vi que poderia estudar Culinary Arts (Artes Culinárias), na faculdade de lá. O primeiro dia de aula, com meu uniforme de chef, minhas facas, foi de pura emoção. Em meio a colegas de várias partes do mundo, todos falando em inglês, sedentos e famintos (literalmente, também) de conhecimento naquela área que os nossos corações escolheram.
Me formei em Gastronomia, recebi distinção como uma das melhores alunas internacionais, minhas sobremesas servem de exemplo até hoje para os alunos de Gastronomia e, de quebra, meus professores me oferececeram um trabalho na confeitaria renomada deles, em Greenwich, CT. Comecei a trabalhar para eles justamente no dia do meu aniversário. Que presente!

Depois de algum tempo com eles e antes de começar a faculdade de Artes Plásticas, resolvi fazer um mochilão pela Europa, um "food tour". Nem preciso dizer que a viagem foi inesquecível e que comi muito, né? Quando voltei para os E.U.A, retomei meu trabalho e estudos. Participei do Food Network, trabalhei para famosos, e onde ia, me ofereciam emprego. I was living the dream!

Mas resolvi voltar a morar no Brasil, depois de quase nove anos morando nos E.U.A. Queria uma vida mais simples, queria fazer comidas gostosas e com qualidade aqui, queria ter acesso a ovos da colônia, a uma horta minha e ter mais tempo para mim e para fazer a segunda coisa que mais amo: viajar. Hoje, sou resultado de MINHAS escolhas. Amo estar na cozinha da minha casa, amo receber as pessoas aqui, em dias de curso, amo vestir um avental, amo ter a minha liberdade para viajar e poder mudar uma realidade que não esteja sendo favorável para mim. Isso, para mim, é gostinho de conquista pelos meus próprios méritos, de escolhas que fiz e não por imposições de outros ou da sociedade.
Temos o direito de correr atrás dos nossos sonhos, de vivermos nossas vidas para nós mesmas, de deixar o mundo mais bonito, de termos atitude e sermos femininas, de sermos livres para escolher o que melhor nos representa, no decorrer da vida e para mostrar que temos conteúdo e capacidade para sermos e fazermos o que quisermos e para lutarmos pelo o que merecemos.
Diz - Gi (assim chamada carinhosamente)
Proprietária da Casa Mangez Bien - A arte de saborear e viver bem - localizada na cidade de Taquara / RS

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